January 15 by K!nder
O dia estava destinado a esta e só esta cache! Há bastante tempo que ouvia falar desta cache com certa atenção, tanta atenção que muitas vezes me deixava levar pelos sonhos e imaginava-me a percorrer os últimos kilometros e a ser deslumbrado pela sua paisagem. Além deste meu devaneio havia também o facto de ser uma zona do Gerês completamente desconhecida para mim e isso roia-me por dentro.
As minhas andanças pelo Gerês começaram era eu ainda muito pequeno, não se pode dizer sequer que era menino. Vinha eu com a minha roupinha e seguindo os passos dos meus pais lá ia eu subindo monte acima. Segundo os relatos que me contam eu parecia uma cabra da montanha, ou como outros gostam de expressar era como um cão que sempre esteve preso até o dia em que é solto e sem saber o que fazer corre, e corre não sabe para onde mas corre.
Lembro-me vagamente de vir ao Gerês até a idade de 6 anos. Por coincidência uma das memórias que ainda retenho desses tempos foi a subida pelo Prado do Vidoal, não sei porque mas há uns meses atrás fiz essa subida e descida e recordei-me de já ali ter estado. Pelos 6 anos acabaram-se as idas ao Gerês e o meu contacto foi cortado por vários anos.
Uns anos depois já eu tinha 14 anos comecei a ter as melhores férias de sempre, campos de férias, ainda hoje não tenho dúvida que como jovem essas são as férias bem mais divertidas que as sempre mesmas férias com os pais. O meu campo de férias não estava sediado no Gerês mas numa Serra bem perto denominada de Serra da Cabreira. Voltou a nascer o gosto pela montanha e de campo em campo esse gosto foi aumentando até chegar a uma situação que não havia retorno, tive de me inscrever na Associação Nacional de Montanha e Pedestrianismo. Ai comecei a frequentar outras serras, algumas marchas (diurnas e nocturnas) e iniciei-me na orientação em equipa.
Por sorte e força do hábito treinavamos na Serra da Cabreira e esporadicamente davamos um salto até o Gerês, a Rocalva era o nosso objectivo.
Hoje era o dia, o dia de conquistar o templo da escuridão e mostrar-lhes a minha luz.
Fisgado neste dia comecei a planear a minha saída, como estava com alguma vontade de além do templo continuar por outros caminhos, estava decidido a começar bem cedo. Uma consulta breve nos sites de metereologia e tinha sinal verde pela qualidade do tempo para esse dia e sabia agora as horas previstas para o nascer e por de Sol. 7:58 e 17:34. Uma coisa era certa tinha de descer até a estrada até as 17:34 mais tardar já as horas de saída queria apanhar mesmo os primeiros raios de Sol. A hora escolhida era 8:00 mais tardar começar a subir.
Comecei a contactar possíveis acompanhantes a esta jornada e de todos os lados fui ouvindo repostas negativas, até que recebi por fim uma resposta afirmativa.
"7:00 em Braga", disse eu.
"Tu és maluco!"
"Temos de começar cedo para dar para tudo, e muito tarde não vale a pena ir. Eu vou nem que tenha de ir sozinho!", rebatia eu
"Pronto 8:00 e não se fala mais nisso!
Fui convencido um pouco triste por ainda não ter começado e já ter perdido uma hora de viagem fui preparando as coisa para no dia seguinte levantar-me e arrancar para Braga.
À hora certa estava já no ponto de encontro e à espera, não é que estava atrasado. Esperei mais um pouco, mais 5 minutos.
Conversa posta em dia, bagagens trocadas dum carro para o outro e lá fomos em direcção à Vila do Gerês, entretanto levamos o primeiro de dois sustos. Uma pedra sem aviso prévio cai sobre o vidro da frente, o estouro foi tal que admito que ficamos meios desorientados por uns intantes. Já recompostos lá chegamos à Vila do Gerês, uma pequena paragem para comprar água extra, tomar o pequeno-almoço e comprar pilhas, porque ir para o Gerês apenas com um PDA (2 horas de bateria) e um GPS que pouco mais dá não tinha jeito. Pilhas extra significavam prevenção extra.
Começamos a subir desde a Vila do Gerês até a casa do Leonte e qual é o meu espanto quando vejo o Mr.Reis a movimentar-se de encontro à janela e a deitar uma frase tão interessante como esta:
"A jante saiu e vai rua abaixo!"
"Porra", penso eu. Com o atraso que iamos e os segundos seguintes foi aquela luta cá dentro de para e perdemos tempo ou continuamos e passamos na descida para a ir buscar.
Como estava farto de perder tempo toca a avançar que o dia não se faz mais novo, no final estava agendada a paragem para a ir buscar.
9:20, casa do Leonte
Mochilas às costas, almoço nas mochilas (sandes ==> K!nder e pizza ==> Mr.Reis) e bastões preparados para a penosa subida até o prado do Vidoal. A subida até o prado do Vidoal como devem imaginar não vou relatar porque seria algo do género: Sobe, para, sobe e para ...
Chegavamos ao prado, com enorme alegria fomos recebidos por uma cadela, chamada Shara. Estava com o seu dono e dois amigos do mesmo.
"Vão para a Rocalva?", resposta afirmativa da sua comitiva. Trocamos trajectos e ambições para aquele dia, a nossa vontade era chegar à temple e descer pela messe eles iam até o Borrageiro.
Como eles estavam parados lá seguimos até a cache do prado do Vidoal enquanto eles ficaram para trás a descansar. Decidimos depois cortar caminho, qual é o espanto de depois duma grande estafadela da nossa parte encontrar-mos a outra comitiva à nossa frente. Voltamos a cruzar-nos com eles e prosseguimos caminho, voltamos a cortar caminho e depois de sobe e desce monte lá estavam eles novamente à nossa frente. Voltamos a cruzar-nos e pouco depois lá estavam novamente à nossa frente.
Admito que me rio às gargalhadas quando estou a ver os Loony Toones e o caçador corre e corre ultrapassa o coelho continua a correr e a ultrapassar o coelho e corre novamente e ultrapassa outra vez. Senti-me um bocado o caçador. Desta vez não iamos deixar que nos ultrapassassem, o que traduzido por outras palavras quer dizer, colamo-nos a eles. Com eles fomos até o arco do borrageiro e ai separamos caminho enquanto eles seguiam para as antenas da Heart nós cortamos por outro caminho mais a direito até o nosso objectivo final. Mais uma vez o sobe e desce de montes até um prado e um abrigo a meio caminho que decidimo usar para a paragem de almoço.
Foi neste momento que finalmente decidi ligar o PDA para nos orientar-mos por GPS, afinal já estavamos em zona desconhecida para mim. Faltavam coisa de 1500 metros até o primeiro ponto. Barriga cheia, níveis de água restabelecidos.
Voltamos a iniciar a nossa viagem. Perto do primeiro ponto o dia solarengo dá lugar a um dia enublado e a ameaçar fortes chuvadas, não estava a gostar da situação. Fomos até o primeiro ponto e desde lá de cima foi quando me apercebi que as antenas já não se viam. Apenas se via um nevoeiro que avançava pela serra fora. As coisas estavam tramadas. A descida estava planeada de duas formas possíveis:
1) Voltar para trás e descer pelo prado do Vidoal, a opção cujo caminho conheciamos.
2) Arriscar ir em frente e tentar descobrir a descida pelo prado da Messe, esta opção era-nos desconhecida e track não tinhamos.
Debatemos as alternativas e a 2) apesar de ser a mais arriscada fazia com que pudessemos tentar andar sempre adiantados ao nevoeiro sem sermos capturados na sua desorientação.
Já imaginava o gozo que ia levar quando alguém me fizesse a pergunta do que tinha ido fazer ao Gerês. Pois ia ter de dizer que tinha fugido de apanhar nevoeiro (à moda do Porto "no boeiro")
Eram perto das 13:00 e estavamos a iniciar a descida para baixo, chegamos a 400 metros do Abrigo dos Pastores e estavamos na mesma curva de nível, o caminho até o abrigo estava sinalizado pela Maria e ainda cambaleamos a ir lá. Mas aquele aperto no estómago e o avanço rápido do nevoeiro levou-me a decidir esquecer e avançar para baixo.
Prado da Messe só lá ao longe porque encontramos caminho mais rápido. Por sorte, fizemos boas escolhas e a descida foi certa e rápida. O tempo para nosso desagrado voltou a abrir, mesmo na altura em que iamos ser apanhados pelo nevoeiro.
Eram 15:00 estavamos na estrada em direção ao carro, supostamente só faltavam 3 kms pela placa, mas na realidade foram 4,2 kms. O nosso próximo ponto era Torneros e uma bela duma banhoca nas piscinas de água quente.
Após a banhoca lá regressamos finalmente a Braga onde tinhamos o outro carro pronto para nos levar a um jantar combinado com amigos. A jante, essa ficou perdida ou foi resgatada por outro automobilista, porque na descida nada vimos.
Hoje foi o dia, o dia da Temple, das manutenções e de novas descobertas.
TFTC