Assim que consegui definir o percurso lembrei-me de que poderia visitar algumas geocaches que se encontrassem nas imediações do trajeto e que não provocassem grandes alterações ao mesmo. Depois de algumas sugestões e respetiva análise das candidatas, a GreenShades ficou no «enorme» lote, no que concerne à qualidade, composto por três magníficos tesouros.
A aventura iniciou-se em Tróia e após a chegada a São Torpes, onde ingerimos uma refeição característica deste tipo de viagem, a paisagem mudou de forma radical e o fastidioso negro da estrada foi imediatamente substituído por paisagens coloridas e trilhos singulares. A partir daqui, a única repetição harmoniosa passou a ser o movimento de rotação do eixo pedaleiro de cada uma das bicicletas.
Os declives sinuosos, decorados agora pela vegetação e cores primaveris, que se podem observar nas varandas naturais que cada uma das irrepetíveis falésias alberga são, para mim sem qualquer margem de dúvida, motivo para agradecer ao grande arquiteto do universo a sua genialidade.
Ao contrário de alguns eventos que são quase «tradição» do geocaching moderno, esta aventura ao longo da magnifica costa vicentina, não teve como mote a conquista de lugares no pódio do ranking de “founds” nacional. Se assim tivesse sido, provavelmente o relato seria muito mais fácil para mim e resumido a: “Feita durante o Geo (não sei das quantas) ao longo da costa vicentina” (ponto final sem parágrafo). Mas isso são outros quinhentos e apenas o referi porque apesar de sermos uma mão cheia de aventureiros, ao avistar o início do trilho apenas eu, apesar do meu tenro meio século de existência, me decidi a enfrentar o magnífico desafio desenhado ao longo do acinzentado trilho suspenso sobre o oceano. Nem sei porquê!
A tarde estava ventosa e ocasionalmente iam caindo pingos envergonhados em jeito de aviso telegrafado do que viria a seguir. Ainda vi o caso mal parado quando avistei um par de nuvens ameaçadoras na minha direção. Talvez pelo facto de o santo padroeiro da meteorologia ser tantas vezes contemplado nas minhas narrativas, o céu ficou novamente mais apelativo e as hesitações partiram para longe nos braços do «arrogante» Éolo que sempre nos acompanhou ao longo de toda a aventura.
Se no dia anterior, numa aventura do género me senti feliz por ter descoberto a liberdade em jeito britânico, após os primeiros passos no magro trilho a felicidade envolveu-me novamente o espírito e pincelou um rasgado sorriso na minha face.
A paisagem radicalmente fantástica que se desenrolava sinuosamente em cada passo meu, misturada com a adrenalina que o caminho proporciona, acelerou-me, em jeito de prova de esforço, o bater do coração. Quando atingi o dourado cume, a frase “O verdadeiro tesouro é a experiência, o conhecimento e a descoberta!” mostrou uma vez mais o seu sentido e veio reforçar a ideia de que uma geocache é muito mais do que um contentor.
Um provérbio indiano que o meu mestre de yoga me revelou em tempos diz que “Não se consegue explicar o sabor do leite. É necessário bebê-lo!” aplica-se na perfeição a este magnífico tesouro natural e apenas quem o visitar saberá o que senti durante toda a aventura.
Fantástico e extraordinário são adjetivos forretas para o descrever… e mais não digo!
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