Dias depois encontrei a minha primeira cache, Monte Branco do Olharapo, na Nazaré. Até 2009 pratiquei um Geocaching de proximidade que foi uma boa aprendizagem mas considero que nos últimos 3 anos, encontrei o meu lugar no jogo e no seio da comunidade, e começei realmente a tirar o melhor partido desta actividade.

Afirma a GroundSpeak que o Geocaching é uma atividade familiar, no entanto, no seio da comunidade feminina, se assim poderemos chamar, há de certa forma uma ideia que o Geocaching é, exceto para as caches drive-in, uma atividade completamente masculina. Como vez este pensamento?

Nunca senti o Geocaching como uma actividade reservada ao género masculino.
Quando me iniciei, as caches eram de forma geral bastante acessíveis e creio que a oferta era essencialmente vocacionada para o geocaching familiar.

O geocaching radical, as caches com máxima dificuldade de terreno e os grandes desafios fisicos são um fenómeno relativamente recente em Portugal.
É facto que existem cada vez mais caches exigentes do ponto de vista físico, colocando à prova força, resistência e agilidade. Contudo em todas as ocasiões a ala feminina tem demonstrado estar perfeitamente à altura!

GPS no campo ou de cartão de crédito no centro comercial? Consegues escolher sem caíres na tentação do “demónio”?

Centros Comerciais é que são para mim verdadeiros demónios! Evito-os tanto quanto posso e ir às compras é para mim um mal necessário.

Honestamente nesse aspecto acho que não sou uma amostra representativa da classe feminina, para bem do cartão de crédito!
Já no que respeita a coordenadas, é de facto muito difícil resistir à tentação de percorrer várias centenas de Km para visitar as caches que vão caindo regularmente na "To do List".

Mas quando a vontade é grande, a oportunidade acaba sempre por surgir!

Caminhando normalmente na rua um homem não imagina que por trás da capa de mulher frágil e dócil está alguém capaz de subir chaminés envelhecidas, atravessar pontes velhas ao longo de 17 km e até mesmo descer cascatas abismais presa numa corda.
Qual é o segredo da supermulher?

Se algum dia eu me cruzar com a supermulher, prometo que lhe coloco a questão!

Não creio que existam super-heróis e acho até que o medo é por vezes um excelente aliado. Em cada desafio que encaro, tento nunca perder o discernimento entre a minha veia aventureira e o bom senso. Prefiro ter um belo DNF para contar do que ser notícia na última página do Correio da Manhã!

Tenho naturalmente algumas limitações físicas e sobretudo imensas barreiras psicológicas difíceis de ultrapassar. Contudo o Geocaching tem sido uma extraordinária escola nesse campo e o meu único segredo é, rodear-me das pessoas certas que me transmitem segurança e em quem deposito toda a minha confiança.

Para quando um evento só para mulheres? Será esta uma ideia completamente tresloucada ou até uma excelente forma de celebrar o Dia Internacional da Mulher e ao mesmo tempo dar coragem às mulheres que não acreditam ter?

Creio que as regras da Groundspeak não permitem criar eventos exclusivos por sexo! Contudo a ideia não é de todo descabida e posso até dizer-te que já foi concretizada!

Em Março de 2010 para celebrarmos o Dia Internacional da Mulher resolvemos juntar uma equipa exclusivamente feminina e partimos dois dias para Sintra e Cabo da Roca num tour baptizado "Horas Femininas".

Foi uma experiência muito divertida e cheia de peripécias que seguramente ficou na memória de todas! As Abelhinhas e o elemento feminino da team Capitães d'Areia, entre outras, participaram da aventura.

É claro que existe espaço para Geocaching no feminino e as mulheres sabem, sem dúvida, transmitir coragem e motivação umas às outras!

Imagina um casal. O marido, cheio de testosterona na cabeça, lança-se com toda a força a 4200 metros de altitude.
A mulher, crente que não consegue porque vive os seus receios observa-o de terra e assiste à sua explosão de alegria.
Tu, uma mulher destemida que já alcançou proezas que invejam muitos homens, que palavras de coragem podes transmitir a esta mulher?

Diria que esta vida são dois dias, e que a nossa passagem por cá é para ser aproveitada em pleno!

Não existe maior satisfação do que vencer os nossos próprios medos e anseios. Desde que estejam garantidos os padrões de segurança, ultrapassar os nossos limites e vencer barreiras psicológicas é altamente compensador e um incrível boost de auto-estima.

Além disso não existe melhor tratamento de beleza do que um sorriso estampado no rosto e os olhos brilhantes de emoção!

É este ano que vais saltar em Évora?

É! Acompanhei as duas edições anteriores com entusiasmo através dos logs e relatos mas, sempre soube que no dia em que fosse a Évora para o Geo freefall, sería para ver o Aeródromo a partir do céu!

O salto é uma experiência que me deixa aterrorizada, mas é um medo que desejo vencer, e sinto que o momento chegou!

Nos EUA, por exemplo, existem diversos fóruns femininos de Geocaching e, inclusivamente, até existe uma associação de Geocaching só para mulheres.
Com o crescimento do Geocaching em Portugal, acreditas num futuro com um "Pink-GeoPT"?

Acho que somos uma comunidade relativamente pequena, e não sinto necessidade de um espaço exclusivamente dedicado ao género feminino.
Na minha opinião temos muito mais a ganhar na partilha e no debate alimentado com pontos de vista masculinos e femininos em volta dos temas relacionados com Geocaching!
Prefiro pensar em plataformas que sirvam para unir, ao invés de dividir!

Agrada-me ver o forte crescimento de novos registos femininos no Portal, todos os dias, e desejo que essas vozes se tornem cada vez mais activas, quer no forum, quer no portal mas principalmente no terreno!

A existir um "Pink-GeoPT", quem seriam as geocacheres nacionais que fariam parte do seu staff?

Em Portugal temos uma incrível comunidade de mulheres Geocachers, pró-activas, dinâmicas e inspiradoras!

A Luísa (Mitorigeikos) é um exemplo de excelência no que respeita à determinação, nunca a vi recuar em frente de qualquer obstáculo e deixa muitos homens "a ver navios".
A Ana (btt) é das mulheres que mais me surpreende no que respeita à coragem em ultrapassar a sua fobia das alturas, já a vi em situações de superação arrepiantes.
A Teresa (dakidali) é sem dúvida uma fonte de inspiração para toda a comunidade pela forma como abraça esta actividade, em todas as suas vertentes.
A última "lição" de determinação que levei para casa foi-me dada por uma menina de apenas 8 anos que me levou pela mão à Edhellond!
Enquanto os joelhos me tremiam ela olhava para mim e dizia "Vamos conseguir!"
E de facto, juntas, conseguimos . Obrigada CarolPT!

Entre muitos outros grandes exemplos, estas são algumas das mulheres que me deixam orgulhosa do nosso Pink Geocaching!

Com alguma frequência assistimos em “cachadas” conjuntas ver apenas o elemento masculino a participar na aventura porque a mulher não acredita conseguir.
Tu, uma mulher confiante em si própria e nos amigos que te acompanham, que mensagem podes deixar a este homem e a esta mulher para contrariar esta situação e ambos poderem viver momentos de grande excitação?

Acho que o nosso ritmo de vida é um corropio alucinante, em que hoje em dia os casais mal se cruzam no meio das obrigações diárias relacionadas com o trabalho, os filhos, a logística doméstica muitas vezes complexa e extenuante.

O Geocaching pode ser uma excelente forma de partilharem momentos únicos e passarem, juntos, tempo de qualidade.
Se é Geocaching radical, drive-in, no campo ou no jardim municipal do bairro, na realidade pouco importa. Ao fim do dia terão concerteza mais uma história para contar!

Para terminar, achas que o Geocaching é azul ou rosa?

Depende dos dias, do humor e da companhia!
Acho que a magia do Geocaching reside justamente no facto de o podermos pintar à cor que desejarmos!

Obrigado Flora pela tua disponibilidade e um bem haja a toda a comunidade feminina do Geocaching Nacional!