19de Abril,2024

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06 May 2011 Written by  Gustavo Vidal

Geotalk - Cláudio Cortez

Cláudio, tu tens 6 caches nomeadas para os Prémios GPS. Sentes uma grande honra com essas nomeações, ou é uma coisa que te passa ao lado?

Claro que sinto uma grande honra em ter 6 caches nomeadas para os Prémios GPS, sendo o quarto com mais caches nomeadas desta lista, a seguir ao grande MAntunes, companheiro de 8 anos de cachadas juntos e dos Greenshades, a referência nacional em caches de grande qualidade, e a par de geocachers como o Fernando Rei, uma referência na colocação de caches de grande qualidade a norte do país, ou do PCardoso, outro histórico do Geocaching em Portugal com quem partilho algumas histórias desde 2004, e que tem das
melhores caches que eu conheço.
Nada me passa verdadeiramente ao lado, apenas selecciono o que interessa ou não. Por exemplo, no caso desta votação, penso que os critérios de escolha das caches foram correctamente escolhidos tendo em conta com o que é realmente o Geocaching e com o que é o seu objectivo: caches em locais remotos que os levam a conhecer locais naturais ou históricos que de outra forma não conheceríamos. Andámos desde há alguns anos nos fóruns nacionais a discutir qual a melhor cache de Portugal, mas com cada vez mais gente e mais caches e mais diversidade de opiniões tornava-se quase impossível obter um resultado que fosse concensual. Com esta votação penso que vamos ter a resposta mais concensual possível.

Todas elas propõem desafios diferentes, mas que provocam enorme sensação de conquista. Achas que é esse o segredo para serem caches tão apreciadas?

Desde sempre foi o meu objectivo colocar caches que fossem verdadeiros desafios, e que fosse de encontro ao que para mim é o verdadeiro Geocaching, que já detalhei na resposta acima. Comecei por colocar caches perto da minha residência nos locais que me pareceram desafiantes e de paisagens únicas.
Era uma maneira de os partilhar finalmente com uma comunidade que me parecia ter algo a ver com o que eu também gostava e com a qual me identificava.
Casos com a Loca do Gato ou No Topo das Radiotelecomunicações ou Alto da Pena, todas a 2, 3kms de casa. Sentia que cada um de nós devia partilhar os locais que conhecia e que sabia que provavelmente muito poucos conheceriam, geocachers ou não. Claro que o prémio de ser geocacher é este, ter uma ferramenta que serve verdadeiramente como um guia que o leva a conhecer a fundo o país, cada vez mais e melhor, como se de uma verdadeira enciclopédia virtual e interactiva se tratasse.
Depois alarguei o raio para outros locais mais afastados, como o Covão da Ametade, ou Noudar e Mata do Bussaco (estas não nomeadas), mas sempre tentando aliar os desafios com o facto de serem locais pouco conhecidos. No caso do Covão da Ametade, não era suficiente colocar a cache no parque, onde toda a gente vai, era necessário colocar a cache onde realmente ninguém ia, e é assim que ela está ali mesmo ao lado de uma pequena cascata que o Zêzere tem no seu início.
Já no caso do Palácio do Correio-Mor, a ideia repetia-se. E por fim, na La Ruta de Los Tuneles, aliar tudo isto, uma grande caminhada, grandes paisagens, uma sensação de conquista ímpar, e acima de tudo a sensação ao chegar ao fim e de se superar a si próprio é avassaladora.
Agora recentemente coloquei uma cache na Ilha de Santa Maria nos Açores, a Heavens Falls, que vai de encontro a tudo o que disse aqui. É uma cache que... só visitando, e mais não digo!:)

Qual destas é a tua menina dos olhos?

É difícil dizer, claro, porque todas as caches são especiais por um motivo ou por outro. Todas tiveram uma razão para ser colocadas, nenhuma foi decisão do momento, todas tiveram trabalho de pesquisa e trabalho de casa antes da colocação, faço questão de personalisar cada cache com documentação própria, nem que seja a tampa da cache ou a capa do logbook, mas se o local merecer leva também uma documentação anexa no interior da cache, algo que aprendi com os amigos Greenshades logo no início. Pena que tenha caído em desuso tal hábito.
Mas sintetizando, falando apenas destas seis, a que realmente tem um maior valor é a La Ruta de Los Túneles, por várias razões, sem no entanto tirar o valor real de qualquer uma das outras.

A cache La Ruta de Los Túneles - Barca d'Alva, é aquela que tem recebido elogios mais rasgados, e apesar de ser uma cache relativamente recente, já conseguiu o rótulo de cache mítica. Consideras que é a melhor das tuas criações? Como é que foi o processo de criar essa cache com o MAntunes?

De facto é a cache que mais se destacou das que coloquei, e percebo as razões para tal. Sei o que sente quem a visita, porque também o senti quando a coloquei com o MAntunes. Este conjunto de duas caches (a par com a Na Linha do Douro) foi das aventuras que mais gozo me deu no Geocaching. Não sei se é a melhor,
mas podemos considerar que sim, face ao feedback que tenho tido. Ser a segunda cache com mais fotos em Portugal e das cinco primeiras é a mais recente é obra. Esta e a sua irmã Linha do Douro juntas têm cerca de 1470 fotos, e isto em cerca de 150 logs. Era bom se todas fossem assim! :)
A história da colocação desta cache tem um pormenor interessante: a ideia original foi-me dada pelos Greenshades, numa reunião que tivémos em 2004 com o PH (Bargão Henriques) e os Lamas, quando falávamos de locais em Portugal que proporcinavam boas caminhadas, eles falaram-me deste local, onde se podia caminhar numa linha de comboio abandonada e se encontrava uma série de túneis e pontes, e onde se podia estar num túnel e sair para uma ponte e voltar a entrar num túnel. Logo fiquei curioso, mas não se proporcionou antes, até que em 2007 em conversa com o MAntunes acabámos por em alguns meses de intensa pesquisa e conversação reunir toda a informação possível para que nos fizéssemos ao caminho em autonomia para percorrer em dois dias os 45kms sobre a linha, pernoitando pelo caminho. Foi um desafio inesquecível, e não sabíamos o que iriamos encontrar! Hoje, é com alegria que vemos log após log que todo o nosso trabalho é valorizado pelos geocachers que a visitam.

O Covão da Ametade é a outra das tuas duas caches nomeadas no distrito da Guarda, onde aliás tens uma terceira, o Poço do Inferno. Vivendo tu no distrito de Lisboa, qual é a tua ligação ao distrito da Guarda? Alguma paixão especial pelas caches deste distrito?

Não tenho nenhuma ligação ao distrito da Guarda, a não ser o gosto pelo património natural que este distrito tem. No caso do Covão da Ametade e do Poço do Inferno são caches colocadas relativamente perto uma da outra e no Parque Natural da Serra da Estrela, que é como se sabe um das referências naturais que temos. Claro que em 2007 ainda não haviam muitas caches na Serra e estas foram um bom "empurrão" para outras que se seguiram a mostrar os paraísos que a Serra tem. A Ruta acaba por ficar ainda neste distrito, mas na verdade ela "pisca o olho" a Trás os Montes, e ao Parque Natural do Douro Internacional. Existem outros distritos onde eu colocaria caches ou coloquei, mas por várias razões não tiveram os mesmo impacto ou qualidade.

A cache No topo das Radiotelecomunicações [Sintra], mais do que um desafio físico é um desafio psicológico. Os logs que tens recebido enchem-te de orgulho por teres ajudado mais alguns Geocachers a vencerem os seus próprios medos e a ultrapassarem os seus limites, ou já não ligas muito ao que escrevem?

Claro que ligo. Leio todos os logs de todas as caches quando recebo a notificação. Nesta cache em particular, sei e assisti a casos de verdadeira fobia a ser ultrapassada. Relembro por exemplo no dia da Geochurrascada de 2009 quando acompanhei uma comitiva que ali se deslocou para fazer a cache, e ajudei alguns a ultrapassar degrau a degrau o medo de alturas. Claro que nem todos conseguem, mas se o conseguirem é com grande orgulho que verifico que ajudei mais alguém a superar-se!
E não é só o caso desta, também na Ruta de Los Tuneles o medo de passar as pontes, algumas com mais de 60m de altura, ou no Alto da Pena, o medo de descer ao buraco, são verdadeiros desafios. Os geocachers têm que saber que nem todas as caches são para todos, e que cada um decide o que quer e consegue fazer. Ninguém é menos geocacher se não conseguir fazer uma cache por qualquer limitação.

As tuas outras 3 caches nomeadas do distrito de Lisboa, Palácio do Correio Mor, Alto da Pena [Loures] e Loca do Gato [Loures], todas no concelho de Loures, revelam bem o conhecimento que tens da região, pois todas nos levam a locais recônditos, de acesso mais ou menos difícil, e que não aparecem propriamente nos guias de turismo da região. Como é que descobriste estes locais e qual é a tua relação com eles?

Como já disse anteriormente, são locais que conheço por serem na freguesia onde resido, alguns mesmo perto de casa, e que conheço há muitos, muitos anos. E digo em primeira mão, ainda há pelo menos um local que vai ter uma cache em breve e que é mais um desafio a superar, também num local recôndito, de acesso difícil, e também ao pé de casa! ;)

Na minha opinião, a The Electro Box seria outra cache merecedora de ser nomeada, mas ficou um pouco aquém dos requisitos de selecção. Ficaste de alguma forma decepcionado por não ter sido nomeada?

Claro que não. A ElectroBox tem o mesmo objectivo que a ToyBox, mas com temas diferentes. Enquanto uma é mais virada para as crianças, a outra remete-nos para um tema mais "adulto". No entanto, não quis deixar passar a oportunidade de criar mais um desafio que sei que só alguns superam, e talvez por isso não tenha sido nomeada. Nem todos os que lá vão a colocam nos seus favoritos, pois como pode ser uma cache favorita quando o risco é o nome do meio desta cache? :)

Apesar de seres um Geocacher actualmente pouco activo, acabaste de publicar uma cache nova, a Villa Romana de Milreu [Estói] (na sua segunda versão). Ainda sentes motivação para esconder caches novas, ou esta foi um fruto do acaso?

Bom, não me considero pouco activo, mas sim um pouco afastado do caminho natural que o Geocaching em Portugal tomou. Continuo a procurar caches, continuo a colocar caches novas e penso voltar a colocar, embora cada vez mais pense bem antes de o fazer.
Comecei à precisamente 8 anos e desde então muito mudou, no entanto ainda existem motivações para colocar novas caches. Por exemplo, coloquei três novas caches na Ilha de Santa Maria, nos Açores, para além da que já lá tinha colocado em Outubro de 2010. Quis desta forma ajudar e incentivar esta actividade nesta ilha, onde cada uma das caches que lá existe é só por si espectacular, impulsionada claro está pela paisagem. Se ali se passasse o que agora se passa no Continente onde as caches surgem como se de ervas daninhas se tratassem, não sentiria qualquer motivação para as colocar. Ali, é como se estivéssemos no Continente em 2005. A Ilha merece uma visita demorada e pode ser que com estas novas caches contribuam para que o turismo seja um empurrão que tanta falta faz.
Também cá ajudei bastante a "empurrar" o Geocaching para a frente, com os eventos Geomeeting de Á-dos-Cãos e 2º Geomeeting de Á-dos-Cãos, um CITO, um evento temático sobre o Natal, os eventos Geocaching na Escola 1 e 2, um Workshop, entre outros. Hoje tudo é diferente, e deste o ultimo que organizei já não há a mesma motivação pois sinto que hoje a maioria dos geocachers procura algo que não coincide com o que eu quero partilhar.

És Geocacher desde 2003, e obviamente que o panorama actual é bem diferente daquele que experienciaste nessa altura. Sentes saudades desses tempos, ou conseguiste adaptar-te à nova realidade?

Completamente diferente! Eu encontrei a minha primeira cache a 1 de Maio de 2003, há 8 anos atrás. Tudo era diferente, só tinha GPSr quem realmente precisava dele ou usava-o para outras actividades como Pedestrianismo, BTT, TT, Espeleologia, ou até Parapente, ou seja, o Geocaching estava acessível apenas a alguns, e esses eram todos pessoas que adoravam a Natureza e viviam no meio dela. Caches urbanas quase não existiam. Mistérios eram futuro apenas, tínhamos as Virtuais e as Locationless, e cerca de 50 caches (sim, 50!) e eramo cerca de...150 geocachers em Portugal!
Até 2005 manteve-se assim, mas neste ano houve um aumento significativo de geocachers e caches, sendo que houve algumas novidades que mudaram definitivamente o panorama. Em 2007 deu-se então a explosão que conhecemos hoje, quer em número de caches quer em geocachers, e deste então chegar à barreira psicológica das 10000 caches foi uma questão de tempo. Hoje, existem para mim pelo menos dois tipos de caches e de geocachers, e um deles não é para mim.
Saudades? Algumas. Mas como sou uma minoria, nem me preocupo mais com isso.
Faço o meu geocaching, as caches que quero (normalmente Terreno 3 para cima, se possível, ou então caches com boas páginas e em locais com história), e com quem quero. Ao início quase nunca se encontrava um geocacher, depois quis juntá-los todos, mas agora prefiro novamente cachar sozinho ou com uma companhia selectiva.

Se pudesses implementar 3 funcionalidades no site do Geocaching para o tornar mais à imagem do teu Geocaching ideal, o que é que sugerias?

Bem, algumas já existem mas como não sou Premium Member não as posso usar, mas nomeadamente criaria uma separação entre as caches de Natureza e as urbanas, de modo a que pudesse haver um filtro para que pudessemos escolher as caches de Natureza por exemplo. Se fosse algo mais radical, separava mesmo as caches urbanas das de Natureza, criando um novo site para tal, como se fez com as Locationless. Criava também opções mais detalhadas para quem submete uma cache escolher e atribuir de modo a que se pudessem criar filtros mais específicos, à semelhança dos Atributos, para que pudesse por exemplo escolher as caches numa região ou país que tem o atributo de caminhada superior a 10km. E ainda, gostaria que tivesse à disposição informação sobre as minhas caches, como se têm pedidos de manutenção pendentes por exemplo ou se têm trackables, sem ter que ver uma a uma.

Das caches nomeadas para os Prémios GPS, que conheces, quais são aquelas que achas que têm mais potencialidade para virem a ser as vencedoras?

É um pouco antecipado para dizer isso, mas existem umas quantas que acho que merecem e têm potencialidade, não vou no entanto dizer quais por agora. Há ainda algumas que gostaria de fazer, e outras que conheço mas nunca fiz o log.

Que conselhos é que darias aos Geocachers mais novos que um dia gostariam de ver as suas caches nomeadas para uma edição futura dos prémios GPS?

Essencialmente que pensem bem quando colocam uma cache, no seu objectivo e a quem se destina. Lembrem-se sempre que são os únicos responsáveis pelo resultado da vossa decisão e escolha. Se querem chegar a mais geocachers, não se esqueçam nunca: o geocaching não é um jogo ou uma corrida, é uma actividade de lazer que deve ser feita sem pressas, sem prémios ou vencedores, o unico prémio é conhecermos locais que de outra forma nunca iríamos conhecer.

Obrigado pelo tempo dispensado a esta entrevista e à votação nos Prémios GPS.

Eu é que agradeço, espero voltar a contribuir para um Geocaching melhor em Portugal!



2 comments

  • Comment Link Bolacha 08 May 2011 bolacha

    Excelente entrevista, com um excelente geocacher ;-)
    Este era o Geocaching que dava gosto fazer, e a competição era a criação de caches realmente boas!

  • Comment Link Paulo
Hercules 07 May 2011 paulohercules

    Entrevista excelente.
    A essência do Geocaching descrita pelo Cláudio.

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