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02 September 2010 Written by 

Ataque ao Rio Poio by Prodrive

 

Rio Poio #1

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Este foi indiscutivelmente um dos dias mais felizes que o Geocaching me proporcionou. Fez-me viajar uns bons anos no tempo, quando na minha infância passávamos as tardes das férias de Verão em Vila Real a subir os rios Corgo e Sordo.

Vários factores se conjugaram para este dia memorável, a começar pelo elenco de luxo que se reúniu em torno desta deliciosa aventura. O Paulo Pache dos The ATeam reúniu o grupo que veio do Porto, e que para além de algumas caras conhecidas que eram por si só, sinónimo de diversão garantida, ainda apareceu um grupo de Geocachers fantásticos cujos nicks apenas conhecia de ter lido alguns logs.
Não será apenas coincidência esta malta do Norte estar presente nalgumas das melhores jornadas de Geocaching que já vivi.

Reúnidos no ponto de encontro (que seriam as coordenadas do parking spot) às 10 horas, lá partimos animados para o ataque ao Rio Poio. A sede de rio era tanta, que em vez de procurarmos o melhor acesso através das suas margens, enfiámo-nos logo pelo meio dos calhaus ainda antes da ponte. Confesso que ia um pouco temeroso e céptico em relação a conseguirmos cumprir a missão. Progredir 7 kilómetros naquelas circunstâncias, não me parecia estar ao alcance de todos (a começar por mim), mas assim que pisámos as primeiras pedras e senti o pulsar do grupo, comecei a acreditar no sucesso da missão.
A aderência das rochas era bastante, e a velocidade a que progredíamos era encorajadora, mas o pior adversário viria a revelar-se outro: a tentação das lagoas enfeitiçadas.

Sem nos darmos conta das distâncias percorridas, num instante estávamos a chegar à primeira cache. Por esta altura ainda estávamos todos em trajes maiores, e a assinatura do log ainda se revestiu de alguma solenidade.

Aqui a paisagem envolvente ainda não apresenta a magnitude e a imponência que iríamos encontrar um pouco mais a montante. Nem mesmo as 5 estrelas se terreno se faziam ainda sentir. Sem dúvida um bom ponto de partida para uma aventura que se iria desenrolar em crescendo.

Rio Poio #2

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Esta cache proporcionou o primeiro momento WOW do dia. A visão daquela estrutura é perfeitamente estarrecedora e surpreendente. Não pudémos deixar de nos questionar da utilidade da fortaleza, que tem tanto de ponte como de dique, como de castelo, como de logradouro, como de enigmático.

O ritmo de progressão estava perfeito. Um ou outro mais apressado ia fazendo as honras de assinar o log-book, e antes mesmo de conseguir escrever o nick de todos, já o pelotão estava novamente reúnido. As máquinas fotográficas não paravam de disparar. Era enorme a vontade de registar para a posteridade aqueles momentos.

Por esta hora, o calor ainda não se fazia sentir, o terreno não tinha trazido desafios complicados e o apelo da água ainda não tinha exercido fascínio sobre nós, mas a bem da verdade, as lagoas ainda não estavam no horizonte.

O melhor ainda estava para vir, embora nem nos nossos melhores sonhos tivéssemos noção de como a Natureza nos iria arrebatar algumas centenas de metros mais acima.

Rio Pio #3

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Este foi o DNF mais belo que alguma vez fiz. Estando eu no grupo que resistiu à lagoa, amaranhei encosta acima pendurado no GPS do Ed10 e andámos a complicar tanto quanto era possível. A determinada altura ele disse: "não mexe mais!. Este é o ponto 0."

Revistámos tudo e a cache não havia forma de aparecer. De imediato suspeitei de um esconderijo que tinha as medidas exactas e as características de ter albergado uma cache, mas de plástico nem sinal...

Alargámos as buscas e devo dizer que batemos durante mais de uma hora toda a encosta. As dúvidas dissiparam-se quando apareceu a Portokeil com as fotos spoilers no iPhone, a confirmar as minhas suspeitas. A cache não estava lá! Pelo menos no esconderijo indicado, nem num generoso raio de 10 metros em redor.

Foi nesse momento que me rendi ao apelo da lagoa, enquanto os inconformados continuaram à procura de um milagre.

O primeiro mergulho mudou a minha perspectiva do Geocaching. Rapidamente percebi que depois de rendido ao feitiço daquelas águas cristalinas, dificilmente o Geocaching voltaria às prioridades, pelo menos do dia .

O que se seguiu foram momentos de puro prazer, embalado nos braços da mãe Natureza. Mergulhar na suavidade daquelas águas cálidas no colo rude das rochas é uma sensação indiscritível de conforto. Uma perfeita comunhão entre o Homem e a Natureza.

Isto é que é vida!

Foi aqui que percebemos a mensagem do owner de "ser crime ír ao Rio Poio e não dar lá um banho!"

Rio Poio #4

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Se alguém me dissesse há uns dias atrás que iria fazer a subida do Rio Poio em cuecas, diria que provavelmente estaria louco . Mas não, este local tem um magnetismo especial que... nos arranca as calças .

Na realidade não fui prevenido com calções de banho, imaginava a água gelada e não me sentia minimamente atraído pela ideia de escalar escarpas desta natureza em trajes menores, sem grande protecção contra as rochas.

Acabei por sucumbir ao feitiço das lagoas e com o calor a começar a apertar, dificilmente conseguiria voltar a enfiar as malfadadas calças.

Foi mais ou menos a partir deste ponto que o Rio Poio começou a mostrar a sua virilidade e toda a imponência em seu redor. As escarpas que ladeiam o leito impressionam pela dimensão e pela verticalidade. Os obstáculos a transpôr começam a ser mais trabalhosos e mais técnicos.

O grupo vai perdendo alguma velocidade. Oportunidade de ouro para ganhar alguma distância e ter a possibilidade de procurar esta cache que prometia ser um pouco mais complicada que as anteriores devido aos vários DNF's que acumulava. Instintivamente e sem GPS fui direitinho a ela. Só poderia ser ali e de facto lá estava ela bem aninhada à minha espera, para gáudio de todos que estavam traumatizados com o DNF da cache anterior.

Estávamos agora na parte mais agreste do percurso, e talvez por isso a mais animada. Na dúvida do caminho a seguir, optávamos para seguir as caganitas deixadas pelas cabras. Se elas tinham conseguido nós também havíamos de o conseguir. Por vezes esquecíamo-nos que as patas das cabras têm ventosas.

Rio Poio #5

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Neste ponto, o espírito de grupo e de entre-ajuda foi fundamental para conseguirmos dobrar o rio sem baixas nem danos colaterais. As escarpas intimidam e um pé em falso pode ter consequências desastrosas.

O caminho das cabras nem sempre era o mais simples. Cada conquista fazia lembrar a célebre frase: "um pequeno passo para a cabra, mas um grande passo para o Homem."

Por coincidência, ou talvez não, a beleza do local crescia na mesma proporção da rudeza da paisagem. A lagoa lá em baixo hipnotizava-nos e apelava a um novo banho. O calor apertava e era uma questão de tempo até nos voltarmos a refrescar.

Comparada com a cache anterior, esta parecia uma drive-in. Lá no alto a satisfação pela conquista era imensa.

Rio Poio #6

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Estavamos agora a chegar ao climax da nossa aventura, a majestosa queda de água de algumas dezenas de metros. O trilho apesar de acidentado faz-se com tranquilidade. Uma escorregadela aqui e ali, mas com tanta vegetação para nos agarrarmos não há grandes cuidados para as evitar.

Confesso que fiquei de tal forma hipnotizado com a queda de água e com a lindíssima lagoa que até me esqueci que havia uma cache para procurar . Aliás, o verdadeiro tesouro estava já encontrado, e assinar o log-book era uma mera formalidade...

Não tardou muito e já estávamos todos dentro de água. Comparada com as restantes lagoas onde nos banhámos (basicamente só passámos o Poço do Inferno), esta era a que tinha a água mais fresca. Ainda assim, verdadeiramente deliciosa atendendo aos mais de 30º C que naquele momento nos envolviam.

Mergulhar naquelas águas límpidas (ok, só vi a ratazana no fim, já depois de ter bebido umas boas litradas de água, e ainda respiro... dum pulmão vá ) foi o troféu pelo esforço dispendido para a alcançar. Esta lagoa tinha um tom de verde esmeralda reluzente. A queda de água é impressionante vista de baixo. Ainda ensaiei colocar-me debaixo dela ao melhor estilo Tahiti Duche, mas o peso das toneladas de água que caía, rapidamente me demoveu do número artístico.

Pouco tempo depois de termos começado a desfrutar aquele pequeno pedaço de paraíso na Terra, começaram a chover da cascata, dezenas de tipos a praticar canyoning. Creio mesmo que nos devemos ter cruzado com o FTomar que por lá andou ao mesmo, mas não o reconheci no meio da multidão. O espectáculo é notável e admiro a perícia de alguns, mas naquele momento o que nós queríamos mesmo era ouvir a banda sonora da água a correr em vez dos gritos histéricos e estridentes dos invasores nos saltos para a água, pelo que era a deixa exacta para explorarmos as lagoas que nos tinham deixado água na boca mais a jusante.

Tínhamos na ideia fazer o percurso na íntegra até à última cache, mas o feitiço das lagoas falou mais alto e era tempo de regressar ao paraíso.

Rio Poio #3A

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Dizer que o regresso foi bastante mais demorado que a ida é pouco. O calor apertava e cada lagoa que se atravessava no caminho era pretexto para mais uma cacholada. A água estava uma delícia e recomendava-se. Falhámos apenas o Poço do Inferno, porque tinha demasiada sombra e a oferta era bastante vasta e de enormíssima qualidade.

Cada lagoa tinha uma configuração diferente e era mais apelativa que a anterior. A cor era comum a todas: verde esmeralda translúcido. Alguns ainda se davam ao trabalho de encher as garrafas, mas no final já se bebia directamente da fonte . O que não mata engorda e como nunca tínhamos ouvido falar em engordar a sede, lá se a matou .

Os mergulhos a as brincadeiras na água foram o ponto alto desta expedição. Reitero o aviso do owner: "é crime vir ao Rio Poio e não tomar um banho nestas águas cálidas e cristalinas.

Esta cache tinha ficado atravessada na glote de muito boa gente, e como os spoilers fornecidos pelo owner no listing da cache eram totalmente inequívocos, propusémo-nos recolocar a cache, privando o owner de uma visita de manutenção (maldade eu sei, mas se vier, que venha esconder novas ).

Recolocar esta cache foi o pretexto para o megulho mais delicioso do dia, o último, já com o sol a esconder-se atrás das enormes escarpas, mas com a rocha quente a confortar o corpo, enquanto os olhos contemplavam esta obra prima da natureza. A companhia era de luxo e os momentos gravados na memória são dos mais deliciosos e agradáveis que o Geocaching nos proporcionou.

Provavelmente, depois deste dia memorável, a vontade para praticar Geocaching deve baixar consideravelmente. Na realidade a fasquia subiu tão alto que qualquer tentativa de procurar plástico só poderá ser decepcionante...

O caminho de regresso até ao carro foi pitoresco. Abandonámos o leito do rio, aí a uns 400 metros do final, e fomos ladeados por uma vereda de silvas que nos adoçaram a boca. Sem dúvida, a cereja (ou melhor a amora) no topo do bolo.

Resta-me agradecer a todos os companheiros de expedição, por este dia em beleza que guardarei religiosamente entre os melhores momentos que já vivi. Ao owner, o grande EterLusitano, mais do que um agradecimento, fica uma vénia por esta Geo-obra-prima!! Conto pelos dedos, os dias que faltam para lá voltar!!

 



5 comments

  • Comment Link prodrive
03 September 2010 prodrive

    Quem tem um dom especial é o Rio Poio. Eu limitei-me a juntar à malta e desfrutar o melhor que a vida tem ;)

  • Comment Link Hugo Silva 02 September 2010 SUp3rFM

    [quote name="migueis"]Partilhei este dia com o Prodrive e posso afirmar com toda a certeza que foi o melhor de toda a minha carreira de Geocacher.[/quote]

    Efectivamente, ele tem o dom de estar presente em grandes dias de todos, onde nós nos incluimos, como geocachers e amigos. :)

  • Comment Link Hugo Silva 02 September 2010 SUp3rFM

    A inveja costuma ser uma coisa feia, não é?

    Excelente.

  • Comment Link Bruno
R Santos 02 September 2010 Bruno

    Safados... Que inveja.

  • Comment Link Oscar Migueis 02 September 2010 migueis

    Partilhei este dia com o Prodrive e posso afirmar com toda a certeza que foi o melhor de toda a minha carreira de Geocacher.

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