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17 August 2013 Written by  Pintelho

Pintelho couldn't find La Ruta de Los Túneles - Barca d'Alva

Didn't find it Pintelho couldn't find La Ruta de Los Túneles - Barca d'Alva

 

Tour 1.500 caixinhas e uma série de túneis:

Hoje é o dia - pensei ao acordar.
Quando espreitei pelas cortinas, na praia da Congida, o radioso sol convidava a uma bela caminhada por um cenário idílico. E estas mini-férias até tinham sido planeadas em torno desta caminhada, que a chuvada da véspera ameaçou seriamente cancelar.

Assim sendo, e aproveitando os dias bem longos que Abril já nos dá, lá nos fizemos até Barca d'Alva onde, após um café no "Cepa Torta" e uma muito agradável conversa com o Sr. Amadeu, nos fizemos ao caminho.

A primeira paragem foi na ponte internacional - a mais bem preservada, sobre um Águeda que, por força da proximidade, quase parece o Douro.

Este foi o primeiro impacto da GS com as alturas e, apesar do bom estado da ponte, terá provavelmente sido a que mais lhe custou ultrapassar. Aqui, nada de novo. Calmamente, lá passámos a ponte, num cenário muito parecido ao que vínhamos a acompanhar desde S. João das Arribas.

 

 

Pouco depois, contudo, deixando Barca d'Alva para trás, somos transportados para uma outra realidade. Aquele túnel, logo o primeiro, atua como um portal para uma nova dimensão. Ao deixar uma parede de pedra nas nossas costas e, pela nossa frente, fazendo aparecer um vale íngreme, verde e deslumbrante, a viagem começa, verdadeiramente, aqui, cerca de 1 Km após o ponto inicial.

Neste ponto da viagem o casal une-se, as queixas e medos diminuem (após uma ponte e um túnel, que mais nos poderia assustar?, pensámos) e o prazer na caminhada acentua-se visivelmente.
A progressão até ao ponto intermédio é mais ou menos constante, cortada aqui e ali por um momento de namoro, que a paisagem pede-o. O ritmo baixa nas pontes que, à medida que nos vamos embrenhando em Espanha, vão aumentando de altitude e adrenalina, baixando o estado de conservação. Lá em baixo, pequenos ribeiros fluem, jucosamente. Afinal de contas, cada pequeno ribeiro, inofensivo, obriga o homem a uma obra de engenharia de milhões. E o homem vence, mas apenas temporariamente. Quantas décadas mais aguentarão estas estruturas, agora que cá não passam comboios?

O ritmo baixava, também, a cada novo túnel. O cheiro a carvão, entranhado nas paredes há décadas, leva-nos a pensar que, mesmo hoje, há ainda linhas sem eletricidade.

Alguns túneis e pontes ultrapassados, chegamos ao ponto intermédio.
Dar com o magano nada teve de complicado. Afinal de contas, se o GPS apontava para "cima", é por era para cima. E assim foi. Se não dá para escalar, deve dar para contornar. E dava. Aqui há trilho, apesar de um inverno chuvoso ter feito aquelas colinas nrenascerem verdejantes, com flores bem interessantes e bonitas.

Encontrada a cache e colocadas as coordenadas finais no GPSr, parámos.
Este local, de beleza já bastante acentuada, foi por nós aproveitado para almoçar. A julgar pela disposição circular das pedras, não seremos os primeiros a almoçar aqui 8
Reconfortável que foi o belo do cachorro "caseiro", pensámos. Com a barriguinha cheia, era hora de continuar. Pelas nossas contas, a caminhada estava mais ou menos com um terço concluído, e o container intermédio era claro: a paisagem aumentará de interesse .
'Bora.
E fomos. Fomos seguindo, e vendo o Águeda, cada vez mais estreito, à nossa direita.
É avassalador pensar na força do tempo, e no quanto aquele fio de água escavou a paisagem até fica com este aspeto deslumbrante.
Pontes e túneis, escarpas maravilhosas e pássaros a entoarem connosco canções improvisadas. Gado, lá em baixo, e várias estruturas abandonadas. Algumas passagens de nível sem origem nem destino, enfim, tudo aquilo que podíamos esperar... E muito mais.

Chegámos à ponte em curva. Decidimos avançar pela esquerda. Do alto das suas curtas pernas, certamente que a GeoSapinha não conseguiria vencer as juntas pelo exterior da curva. Ainda assim, avançámos, devagar mas decididos, ela à frente, eu atrás.
As falhas pelo interior são bem mais pequenas, mas a falha no corrimão, em que eu não reparei, ainda me pregou um susto.

Chegámos ao fim da ponte, para muitos o maior desafio do caminho, e fotografámos, fotografámos, fotografámos . Aqui, o àgueda mantém presença, quase ofuscado pelas obras de engenharia.

Foi após o túnel seguinte que, olhando ao GPSr, que indicava 200m para o GZ - seria a minha "half-a-milestone" - decidi consultar a dica, para ser "chegar e logar". Afinal de contas, nestas aventuras, o importante é a caminhada.
E foi aqui que o DNF de uma vida se começou a formalizar.
Ao carregar em "Mostrar dica" o GPSr começou a "moer, moer", até que se desligou.
Sem problema, continuámos a progredir enquanto o GPSr reiniciava só que, com o restart, veio um GPS sem as coordenadas finais. La Ruta de Los Tuneles encontrava-se 10 K atrás de nós, em Barca d'Alva.
Após um nervosismo inicial, decidimos pedir HD ao anjomaco, cuja memória não conseguiu ajudar muito. OK, liguemos ao owner.
Foi um ocupado clcortez que foi trocando mensagens com a GS, ao longo de duas horas (!!!) de buscas sem coordenadas. A dica mais óbvia, seguir os trilhos dos geocachers, revelou-se infrutífera, sobretudo porque com um inverno rigoroso e uma semana de sol a erva não só despontara como crescera desmesuradamente, tapando qualquer indício de trilho. O trilho estava a ser trilhado por nós, encosta acima, encosta abaixo. Duas horas volvidas, e com outras tantas de sol pela frente, vimo-nos forçados a desistir. Obrigado, Cláudio, pela paciência. A lição do dia: nunca confiar apenas no GPSr. Valia a pena fotografar o container, escrever as coordenadas em papel, fosse o que fosse, mas recuperar as coordenadas, já que ninguém mas conseguiu fornecer.

Dali do GZ (ou de muito próximo dele ), as vistas para a ponte que desemboca num túnel dão a melhor fotografia do percurso. Sempre que a mostro, a reação é a mesma: "Parece uma paisagem de filme!". E não é, mas bem podia ser. Simplesmente capaz de nos transportar para um qualquer local de fantasia, com anões e duendes, cavaleiros e batalhas.

Seguimos, meio desapontados. Na verdade, comentámos várias vezes, como que para nos enganarmos, o importante é a caminhada. E é, não é?!

No túnel seguinte tivemos um encontro imediato com um casal de turistas que, guiados por uma desnorteada portuguesa, acreditavam estar já a meio do percurso. O meu GPSr marcava 13 Km, e eles acreditavam já ter percorrido outros tantos desde Fregeneda. Informei-os de que assim não era e de que era provável que já não chegassem com luz do dia a Barca d'Alva, mas fomos ignorados. Esperamos que nada se tenha passado com os caminheiros.

Seguimos em direção ao túnel dos morcegos, deixando para trás a paisagem de cortar a respiração do Águeda. Um dos túneis, aberto no meio, tem uma das vistas naturais mais esplendorosas da caminhada.
Mas nós, impávidos, seguimos.

O túnel dos morcegos começa como os outros todos. Não se vê o fim - é uma curva. Cheira a carvão. Como banda-sonora, água a escorrer pelas paredes do túnel. à nossa frente, um solitário e assustado morcego sobrevoa a cavidade para o seu interior.
"Então era isto? O túnel dos morcegos tem um morceguito?".
Mas eles vivem em colónias, e lentamente vou ouvindo o som da água ser substituido por uma chiadeira, que em breve se torna na banda-sonora principal. Em simultâneo, os pés deixam de pisar cascalho e começam a pisar os dejetos dos morcegos. Em simultâneo, o cheiro do carvão transforma-se no cheiro dos mesmos dejetos e, em simultâneo, o teto do túnel fica pejado de animais, assustados pela luz do nosso frontal. Ali, naqueles cem metros, não entra a luz, e mandam eles. Os arrepios de satisfação por presenciar uma realidade que sei que 99% das pessoas desconhecem fazem esquecer o DNF. Acima de tudo, a aventura já valeu a pena.

Saímos do túnel, e a GS venceu três medos: dos túneis, das alturas e dos morcegos. O sorriso estampado nos lábios dela denota o alívio. Certamente esteve, todos estes Kms, a pensar que seria incapaz de enfrentar este túnel e, no entanto, até gostou da experiência. Aposto que, também ela, já esqueceu, temporariamente, pelo menos, o DNF.
Segue-se um troço de linha, quase sem trilhos por fora dos carris e, por último, o túnel. O número 1 no topo não engana, mas... Já vejo a luz. Se calhar não é necessário passar pelo túnel com mais de 1 Km.
Então entrámos. Seguimos e, após cerca de cinco minutos no túnel, a luz não se mexia, à nossa frente. Foi então que, finalmente, percebemos que esta reta era o famigerado túnel.
E andámos, andámos, andámos, enquanto aproveitava para partilhar com a GS que andar nos túneis dos comboios sempre acompanhara o meu imaginário de criança. Fascinado, seguia, metro após metro, vendo finalmente a luz aumentar de tamanho na minha retina.
WOOOOOOOOOOW!, pensei, ao sair do túnel, vislumbrando de imediato a estação de Fregeneda.
Seguimos e abrigámo-nos, enquanto esperávamos pelo bonacheirão Sr. Amadeu, sempre prestável e já preocupado, pois com a busca pela cache acabámos por demorar muito mais que a nossa conta.

No interior dos armazéns abandonados, encharcados pela chuva que nos acompanhou nos últimos Kms, abraçámo-nos. Ambos o sabíamos: este DNF ficaria na memória, e um dia haveríamos - havemos - de voltar.

Obrigado, Cláudio, por proporcionares ao mundo uma das melhores aventuras que o Geocaching pode ter.
Obrigado, GS, por teres, primeiro, confiado em mim, segundo, abdicado de um dia para fazer este percurso, terceiro, por aturares os meus devaneios e, por fim, por te teres deixado embarcar numa caminhada... em troca de um DNF!

MUITO OBRIGADO pela inesquecível cache!



2 comments

  • Comment Link Joaquim Safara 18 August 2013 jasafara

    Um belíssimo log em prosa poética :) Devias ter o número de telefone da IPF...Também já me aconteceu o mesmo, mas felizmente não numa cache destas...

  • Comment Link FloraCardoso 18 August 2013 Lusitana Paixão

    Que belo relato João. Muito obrigada pela partilha, senti-me transportada pelas tuas palavras ao longo do caminho! Parabéns!

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