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28 June 2013 Written by  Pintelho

Pintelho found Freedom

Found it Pintelho found Freedom


A manhã começou cedo, soalheira e promissora.
Pelo caminho, uma viagem entre Vila Nova de Milfontes e Portimão, com paragem em quatro caches "míticas" da costa vicentina.
Esta era a primeira, mais a Norte (ou menos a Sul?!).

Receosos, lá estacionámos o cachemobile em local aconselhável, seguindo os últimos 400m a pé.
Dos 400, os primeiros 300 são canja, o que não agoirava nada de bom. Onde começa, afinal, o "T4"?
Chegados a talvez pouco mais de 50m da cache, eis os dois aventureiros, Pintelho e GS, a medirem bem a dificuldade do acesso. Seria lá em cima? Seria...?

Começámos a seguir o trilho, a início muito bem definido, e a descer. A descer, a descer, a descer. Claro está que aventura que é aventura não passa sem uma "invenção". Desta feita, uma má avaliação do acesso numa zona exclusivamente de pedra elevou a dificuldade para T4,5.
Chegados, finalmente, cá abaixo, à ruína, fomos assombrados por um único pensamento. Se nós estávamos cá em baixo, a liberdade só poderia estar lá no topo. Mas como? Não era, afinal, fácil vislumbrar caminho.


Decidido, tomei a dianteira da mini-expedição. Quando a GS começava a desacreditar o meu sentido de orientação, eis que num vislumbre identifiquei o percurso, turtuoso, tanto ou mais que uma estrada de montanha, mas de acesso exclusivo a peões temerários. Uma verdadeira estrada para a liberdade.
Aqueles que alcançam liberdade na sua plenitude sabem que o caminho não é fácil e, metáforas aparte, esta homónima de uma cache minha é uma prova disso mesmo.

Quantos metros faltam?, questiona a GS no início da subida. O GPSr marcava 19m, mas eu sabia que seriam bem mais. Se a estrada fosse uma reta, teria uma inclinação seguramente superior a 100%. Felizmente, as consecutivas curvas apertadas, em ângulos impossíveis, baixavam este rácio para algo que, sendo desafiante, era também transponível e, enquanto subia, só pensava no desgaste que as minhas sapatilhas viriam a sofrer no regresso.
Uns bons metros adiante, tornava-se claro que iríamos conseguir, fruto da perseverança e do cuidado, nem sempre presente. Por esta altura, já faltavam 21m para o GZ e, no entanto, estávamos bem mais próximos.

Depois de vencida metade da diferença de altitude, restava deixar a inércia trabalhar. Seguimos, seguimos, seguimos, e foi quase como uma superação atingir o topo. Conseguira. Mas ainda não estava pronto para desfrutar, nem sequer para me aperceber da liberdade do local. Primeiro havia que solidariamente apoiar a GS, escassos metros abaixo.

Com ela no topo, aí sim, havia que contemplar. Olhei em volta, após um demorado beijo de festejo.
Por momentos os músculos do meu queixo deixaram de responder, e o maxilar inferior ficou caído. Estava pasmo.

Ali, no meio do mar, onde qualquer pessoa sensata diria que era impossível alguém chegar sem apoio, tínhamos um local só nosso. Nosso e das gaivotas, que vaidosamente teimavam em olhar-nos, sobranceiras, como que desdenhando todo o esforço que nós tivemos que fazer para chegar àquele pequeno paraíso, só delas.
Depois, caminhei de um lado para o outro, naquela maravilhosa elevação. Em certos ângulos, uma verdadeira ilha deserta - ou quase. Afinal de contas, lá estávamos nós, os seus dois únicos habitantes.
Aproveitámos para fotografar a liberdade, e finalmente lembrei-me do que nos levara ali - a cache!

 

Olhando à dica, poderia estar em vários locais, e acabei por ser eu a dar com ela, bem escondida.
Por esta altura, já a GS estava sentada, olhando para terra, com um sorriso nos lábios. Anda cá!
Obedeci e sentei-me a seu lado. O container, a meus pés, era a corporização de algo muito maior. Conseguíramos.
Então, começou a ler, diretamente do GPS. Uma prosa poética saía-lhe dos lábios. Mas isto é Geocaching? Isto também era Geocaching! O log do Artur, alguns tempos antes, fez a delícia de cinco minutos de liberdade. Uma verdadeira lição de como escrever logs.

Só então nos lembrámos que, ali, era preciso também rabiscar o livro que jazia a meus pés .
Logámos, recoloquei a cache e não resisti. Ali, mesmo na ponta, mesmo à minha frente, uma gaivota desfrutava do melhor local possível. E eu não tinha superado tantos obstáculos para não ter uns segundos de braços abertos naquele fim do mundo, longe de toda e qualquer preocupação e constrangimento.

Foi então que me aproximei. A gaivota levantou voo, sem protestar, como que a mostrar-me que, para ela, aquele terreno não apresentava quaisquer dificuldades.
Aproximei-me, abri os braços e imaginei-me a voar, por uns segundos, até que a voz da GS, lá atrás, me acordou. A gaivota que eu incomodara sobrevoava-me, agora, gritando ferozmente. Ela não estava ali por acaso. Defendia um ninho, provavelmente com ovos.

Afastei-me, calmamente, e olhei o céu, já pronto para iniciar a descida. Dezenas daquelas aves, livres como na canção, sobrevoavam-nos, mostrando que aquele patamar de liberdade não é nada comparado com o delas.

Era hora de regressar, e o regresso não se mostrou tão complicado como eu antecipara. Com umas boas sapatilhas de caminhada e baixando o centro de gravidade, lá fui vendo as cristalinas águas aproximarem-se novamente de mim, metro após metro, até quase lhes tocar com a mão.
Ponderei um banho, que não tomei, e iniciei a subida para o continente. Deste ponto de vista o caminho aparecia bem mais definido, pelo que subir foi tarefa bem mais simples que descer e, poucos minutos depois, estava de novo no acesso em terra batida coberta de areia.

Para trás guardava a recordação daquele mar imenso, azul. Das gaivotas, livres como nunca serei. Da superação. De estar ali, só nós, e de ver pessoas a caminhar em "terra", olhando-nos como se fosse impossível verem alguém ali.

De ver alguém procurar um acesso, que encontrou mas não foi capaz de seguir, e de acenar um "adeus". Eu sou livre. E tu? Por que não consegues ser?

Não deixei mais que uma gaivota assustada, temporariamente, e não trouxe mais que estas memórias de uma cache ímpar, que sai presentada com um favorito e um sincero e genuino

Muito Obrigado, Ana e Aurélio. Geocaching assim vale sempre a pena. Ali, no "meio do mar", mas em terra, fui livre!



2 comments

  • Comment Link João Malheiro 28 June 2013 Pintelho

    Está certo que sou suspeito, mas acho que fazes muito bem em ir! :)

  • Comment Link vsergio 28 June 2013 vsergio

    a ver se consigo fazer uma, só uminha, destas estas férias de verão, bastava uma :)

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